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segunda-feira, 4 de julho de 2016

Federação não é equipe! Quando vão entender isso?

Marcus Rezende


O taekwondo brasileiro continua a vivenciar uma política anacrônica de competições nacionais para cuja disputa, em vez de envolver clubes, academias e associações, contempla na verdade 27 federações estaduais. Talvez o taekwondo seja a única modalidade desportiva no Brasil cujas entidades estaduais de administração, em vez de cuidarem do fomento, da organização administrativa e dos campeonatos estaduais, transformam-se em equipes para competir em um Campeonato Brasileiro.

Os dirigentes estaduais cuidam durante o ano de atividades que nada tem a ver com o papel de uma federação. Desde sempre isso acontece. As etapas estaduais (que deveriam servir à plena atividade competitiva) são transformadas em seletivas visando formação de uma equipe do Estado.

Você conseguiria imaginar isso no Futebol? Os clubes participando do estadual e ao fim do campeonato, a federação de cada estado escolhendo os melhores jogadores para a disputa do Brasileirão? E assim, no lugar dos times, a federação do estado passar a ser uma equipe?
Gosto deste exemplo, pois facilita a visualização do quão sem propósito são os campeonatos Brasileiros neste formato.

A preocupação dessa galera dirigente, após as etapas estaduais, passa a ser treinamento das seleções, viabilização do deslocamento delas, alimentação dos atletas e a estadia nos campeonatos nacionais organizados pela CBTKD.  Os dirigentes passam a ser comandantes de entidades transformadas em equipes. Mandam confeccionar uniformes, escolhem treinadores, preparadores físicos, local para treinamento das seleções. Em alguns estados, chega-se ao absurdo de o presidente da federação ser o próprio técnico da seleção. Ao fim da grande festa do Brasileiro de Taekwondo, defendem que os atletas campeões só o foram graças ao trabalho realizado pela entidade.

Os pobres dos treinadores e respectivas equipes que participaram das etapas estaduais sequer são lembrados.
Aos olhos de quem desconhece que isso é um anacronismo, pode parecer algo interessante e organizado. Mas tratando-se de esporte, é surreal. Só mesmo desconhecendo o funcionamento de outras entidades desportivas que realizam um caminho totalmente inverso ao da CBTKD, para acharem que o sistema formatado pelo taekwondo brasileiro é o correto.

Mas por que isso acontece? Há alguns fatores. Mas vou discorrer sobre três deles, os quais acho preponderantes. O primeiro é o da vaidade do cara que acha que manda no pedaço estadual. Ele acredita mesmo que é o dono do taekwondo no estado e que, sem a Federação, não há vida taekwondista. E ainda sendo dono, e se achando plenipotenciário, também possui vaidade e quer ser chefe de uma equipe competitiva.

O segundo está mesmo no fato de ignorarem o que significa dirigir uma entidade de administração desportiva. A que serve esta entidade e quais as suas limitações legais à luz das leis do esporte e da própria Constituição.

 E a terceira segue a lógica de ganho pecuniário fácil na hora de dar acesso aos atletas às seleções estaduais. Nessa hora, os faixas-pretas registrados devem ser aqueles que foram examinados pelos SENHORES DO SABER ETERNO (coincidentemente os dirigentes das entidades). Uma forma de forçar o pobre do professor e mestre do Estado a entregar seus atletas às Bancas Examinadoras compostas por aqueles que detém o poder da federação e que vão auferir a taxa de exame deste praticante.


Portanto, está mais do que na hora de as federações entenderem o seu verdadeiro papel e deixar que as competições nacionais ocorram por agremiações, acabando de vez com a formação de seleções estaduais. Isso chega a ser primário aos olhos de uma administração desportiva moderna, ainda mais se tratando de uma modalidade individual.