O taekwondo brasileiro continua a vivenciar uma política anacrônica
de competições nacionais para cuja disputa, em vez de envolver clubes,
academias e associações, contempla na verdade 27 federações estaduais. Talvez o
taekwondo seja a única modalidade desportiva no Brasil cujas entidades
estaduais de administração, em vez de cuidarem do fomento, da organização
administrativa e dos campeonatos estaduais, transformam-se em equipes para
competir em um Campeonato Brasileiro.
Os dirigentes estaduais cuidam durante o ano de atividades
que nada tem a ver com o papel de uma federação. Desde sempre isso acontece. As
etapas estaduais (que deveriam servir à plena atividade competitiva) são
transformadas em seletivas visando formação de uma equipe do Estado.
Você conseguiria imaginar isso no Futebol? Os clubes
participando do estadual e ao fim do campeonato, a federação de cada estado escolhendo
os melhores jogadores para a disputa do Brasileirão? E assim, no lugar dos
times, a federação do estado passar a ser uma equipe?
Gosto deste exemplo, pois facilita a visualização do quão
sem propósito são os campeonatos Brasileiros neste formato.
A preocupação dessa galera dirigente, após as etapas
estaduais, passa a ser treinamento das seleções, viabilização do deslocamento delas,
alimentação dos atletas e a estadia nos campeonatos nacionais organizados pela
CBTKD. Os dirigentes passam a ser
comandantes de entidades transformadas em equipes. Mandam confeccionar uniformes,
escolhem treinadores, preparadores físicos, local para treinamento das seleções.
Em alguns estados, chega-se ao absurdo de o presidente da federação ser o
próprio técnico da seleção. Ao fim da grande festa do Brasileiro de Taekwondo, defendem
que os atletas campeões só o foram graças ao trabalho realizado pela entidade.
Os pobres dos treinadores e respectivas equipes que
participaram das etapas estaduais sequer são lembrados.
Aos olhos de quem desconhece que isso é um anacronismo, pode
parecer algo interessante e organizado. Mas tratando-se de esporte, é surreal. Só
mesmo desconhecendo o funcionamento de outras entidades desportivas que
realizam um caminho totalmente inverso ao da CBTKD, para acharem que o sistema
formatado pelo taekwondo brasileiro é o correto.
Mas por que isso acontece? Há alguns fatores. Mas vou
discorrer sobre três deles, os quais acho preponderantes. O primeiro é o da vaidade
do cara que acha que manda no pedaço estadual. Ele acredita mesmo que é o dono
do taekwondo no estado e que, sem a Federação, não há vida taekwondista. E ainda
sendo dono, e se achando plenipotenciário, também possui vaidade e quer ser
chefe de uma equipe competitiva.
O segundo está mesmo no fato de ignorarem o que significa
dirigir uma entidade de administração desportiva. A que serve esta entidade e
quais as suas limitações legais à luz das leis do esporte e da própria
Constituição.
E a terceira segue a
lógica de ganho pecuniário fácil na hora de dar acesso aos atletas às seleções
estaduais. Nessa hora, os faixas-pretas registrados devem ser aqueles que foram
examinados pelos SENHORES DO SABER ETERNO (coincidentemente os dirigentes das
entidades). Uma forma de forçar o pobre do professor e mestre do Estado a
entregar seus atletas às Bancas Examinadoras compostas por aqueles que detém o
poder da federação e que vão auferir a taxa de exame deste praticante.
Portanto, está mais do que na hora de as federações
entenderem o seu verdadeiro papel e deixar que as competições nacionais ocorram
por agremiações, acabando de vez com a formação de seleções estaduais. Isso
chega a ser primário aos olhos de uma administração desportiva moderna, ainda
mais se tratando de uma modalidade individual.