Marcus Rezende
Fazendo uma análise do
quão pouco seriamente e profissionalmente o taekwondo de alto
rendimento está sendo praticado no Brasil, cheguei à triste
conclusão de que não temos sequer 100 atletas. Esta é realidade do
taekwondo competitivo deste país. Quando escrevo quão pouco
seriamente, não estou me referindo aos ratos de academia que treinam
diariamente de forma desordenada. Refiro-me aos que desenvolvem um
trabalho planejado e individualizado.
A CBTKD e as
Federações de Taekwondo têm, em minha opinião, a maior parcela de
culpa nesta situação. Isso porque sempre quiseram se
responsabilizar pela preparação física e técnica dos atletas
brasileiros (e ainda teimam em fazê-lo), colocando para escanteio o
trabalho dos clubes e de seus respectivos treinadores, os quais
acabam desanimando e deixando de lado o papel de inserir dentro da
seara competitiva novos talentos para o taekwondo brasileiro.
Vejamos o caso do
apoio da Petrobrás, por meio do Instituto Passe de Mágica. A
empresa pública apoia com salário os atletas classificados em uma
seletiva realizada pela CBTKD. Banca também uma equipe
multidisciplinar, a qual tem que passar pelo crivo do presidente da
entidade de cuja caneta também são eleitos um seleto grupo de
dirigentes de federações formadora da base aliada dele. IMORAL!!!
Aí, o que acontece?
Aquele atleta classificado para compor a Seleção Brasileira durante
todo o ano em curso, fica no meio de um fogo cruzado. De um lado, o
clube, treinador e a equipe multidisciplinar que o treina. Do outro,
os treinadores da CBTKD, bancados com dinheiro público e que querem
mostrar serviço, mesmo que não sirva para nada.
Tirando de cena os atletas apoiados pela Petrobrás, no bojo do desânimo que vem tomando
conta de treinadores e atletas brasileiros, surgem algumas
iniciativas como a do Pão de Açúcar que começa a investir na
modalidade, dando uma sobrevida ao combalido taekwondo nacional.
Aí, quando a
estrutura privada é montada, os cartolas se aproximam e vão pedir a
benção (em forma de chantagem subliminar) àqueles que estão por
cima da carne seca.
Recentemente o
presidente da CBTKD, Carlos Fernandes, esteve reunido com a Comissão
Técnica do taekwondo do Pão de Açúcar para pedir o espaço para a
Seleção Brasileira treinar. O mesmo fez o presidente da federação
de taekwondo de São Paulo, que assumiu o cargo depois que a CBTKD
destituiu ilegalmente o anterior, Yeo Jun Kim.
A gente tem que
rir, pois chorar não adianta. Tais dirigentes demonstram com esta
atitude que não entendem o real papel da entidade que presidem. E
não entendem por um motivo simples: devem acreditar que todos os
atos que envolvem o taekwondo obrigatoriamente precisam passar por
eles. Parece não aceitar que clubes e outras instituições possam
desenvolver um trabalho independente e que os treinadores destes
grupos sejam mais bem preparados do que os eleitos para
desenvolver um trabalho coletivo em esporte que precisa
necessariamente ser individualizado.
Além do pouco
conhecimento do real papel frente às responsabilidades que lhe são
inerentes, falta humildade e sobra soberba a estes
pseudos-dirigentes. Não entendem de esporte e continuam copiando o
legado coreano dos anos de 1970.