Desde o ano 2000, venho
dizendo que o sistema desportivo no Brasil está completamente
equivocado. De lá pra cá, na minha humilde opinião, as coisas
pioraram, pois as entidades de administração no Brasil ainda não
conseguiram entender o papel que devem exercer junto aos atletas de
taekwondo de alto rendimento, tampouco que ações precisam realizar efetivamente para fomentar a modalidade.
Ao desbancar
figurões do taekwondo mundial, chegar a final e quase vencer o Grand
Prix inaugural na Inglaterra (só não conseguindo porque a arbitragem resolveu no finalzinho da luta empatar um placar de 2 x 1 favorável ao
brasileiro, e levar a luta para a prorrogação vencida pelo inglês que aplicou um questionável soco no colete do brasileiro), Guilherme Félix, de 24 anos, da Brazil Taekwondo Team (treinada pelo mestre Frederico Mitooka) acabou, subliminarmente, dando
um recado à cartolagem brasileira cujo teor poderíamos traduzir
assim: Não nos atrapalhem que as medalhas virão.
Com o resultado do Grand Prix de Taekwondo, o brasileiro conquistou 48 pontos no Ranking Mundial e se posicionou na 16ª colocação. Um passo enorme à vaga Olímpica de 2016.
E olha que a vida
deste atleta não foi nada fácil em 2013. Logo no início do ano, por conta de uma lesão, precisou se submeter a uma cirurgia e se manter em sessões de fisioterapia para voltar aos treinos o
mais rápido possível. Voltou a treinar, mas a fisioterapia
continuava.
A programação
física e técnica era organizada por Mitooka, jovem treinador paranaense, radicado em Piracicaba, interior
paulista. A ele a CBTKD deveria premiar pelos relevantes serviços
prestados ao taekwondo de alto rendimento deste país.
Guilherme Félix disse
que, em pareceria com o treinador, definiu as competições que
deveria disputar em 2013.
“Decidimos
juntos quais principais eventos que temos que priorizar na
programação, pois pensamos que nosso corpo não consegue estar no
seu ápice para lutar em todos os eventos”, explica o atleta,
ressaltando que no período pós-cirúrgico precisou estabelecer qual
seria a meta para 2013.
Desde que o dinheiro
público, em 2002, passou a remunerar atletas no Brasil por meio da
CBTKD e mais recentemente com verbas da Petrobrás, os treinadores
brasileiros passaram a ter dificuldades com seus atletas, pois no
meio do caminho havia a Comissão Técnica da CBTKD dando pitacos nos
treinos dos atletas e estabelecendo as competições que eles
deveriam estar.
Não foi o caso de
Guilherme, ano passado. A lesão e a cirurgia deram ao atleta liberdade
para se programar: “À
medida que fui evoluindo, o ritmo da fisioterapia diminuía
dependendo do treino, pois o objetivo era me colocar de volta para
treinar”, lembra o atleta, revelando que mesmo no descanso
realizava o que alguns treinadores chamam de treinamento invisível.
“Acreditamos que o treino fora do tatame é algo mais do que
essencial, estudando e analisando lutas e jogos táticos, para que
possa enriquecer a mente e, consequentemente, o treino”, assinala.
Porém, para muitos
atletas da Seleção, ter seu próprio treinador estabelecendo as
metas do ano não é coisa fácil. Isso porque quando passam a
integrar a Equipe Brasileira (para o ano todo) e receber recursos
públicos em forma de salário, acabam se tornando, de certa forma,
reféns das ideias e decisões dos cartolas.
E as dificuldades de
nossos atletas não param por aí. Se de um lado a CBTKD tenta, por
meio de uma Comissão Técnica, ser a responsável pelos treinamentos
dos atletas agraciados com verba pública, do outro, há os
dirigentes regionais que também querem dar a sua contribuiçãozinha
para atrapalhar um pouquinho.
No caso regional,
sob a alegação anacrônica de uma seleção estadual treinando
junta, alguns presidentes chegam a obrigar atletas vencedores das
etapas estaduais a realizarem treinos organizados pela própria
federação. UM CONTRASSENSO.
Guilherme Félix é mais um brasileiro que vem reforçar a tese que defendo desde o início deste milênio, cuja premissa é a seguinte: cada atleta de taekwondo é uma seleção que deve ser tratada individualmente.
Sendo assim, a CBTKD nunca deveria se intrometer no trabalho individual que cada um deles realiza, tampouco definir as competições que devem disputar.