Marcus Rezende
Cartas que os
presidentes das federações de taekwondo coligadas à CBTKD enviaram
à entidade se solidarizando com o presidente da confederação,
Carlos Pinto, depois que os Desembargadores do Rio de Janeiro
decidiram anular o tal estatuto ilegal e inconstitucional, aprovado
em Novembro de 2011.
Lendo cada uma
delas ficou a impressão de que o mandatário da CBTKD emanou ordem
para que os presidentes abordassem conteúdos específicos no intuito de sensibilizar os magistrados.
Como toda unanimidade é burra, como diria Nelson Rodrigues, com pouca
criatividade, os presidentes das entidades estaduais deixaram isso
claro em suas manifestações de repúdio à decisão do TJ do Rio de
Janeiro e de apoio ao presidente da Confederação Brasileira de
Taekwondo.
Se o leitor conhece um desses presidentes estaduais, pergunte a
eles por que até o momento não se manifestaram em relação à publicação no site da entidade sobre a prestação
de contas ordinárias da CBTKD do ano de 2014? Será que a AGO ocorreu, mas as contas não foram apresentadas? Será que estão atrás das notas que justifiquem os gastos? Podemos pensar em qualquer coisa, em se tratando deste grupo sob eivadas suspeições de desvio de dinheiro público.Mas isso tudo está sendo apurado. Só esperamos que os presidentes estaduais que hoje defendem esta gestão, mantenham-se fieis quando as suspeitas forem comprovadas.
E ainda
questionam não terem sido ouvidos pelos desembargadores.
As cartas que resumo a seguir foram
anexadas a uma apelação que a CBTKD fez à 3ª Câmara Cível.
Vamos analisar
alguns trechos das cartas.
O que diz o
presidente Gilson Baracho, da Federação Esportiva Fluminense:
“Ficamos sem entender porque o poder judiciário do estado do Rio
de Janeiro não deferiu as provas testemunhais, tão importante para
a apurar a verdade dos fatos neste processo”.
Ora, não seria
porque os magistrados entendem que o papel de uma federação é o
de fiscalizar e não o de defender a confederação? Tem que
respeitar a decisão da justiça, presidente, e procurar entender o
que ocorreu de verdade. Ao que parece, não leu a decisão.
O presidente da
Federação da Bahia, José Carlos Teixeira, vai na mesma toada e diz
que a decisão está causando temor aos atletas da Bahia e um
retrocesso no nordeste. Sem comentários!
Já o presidente da Federação Maranhense, Geová de Sousa, também se manifesta contra a decisão do TJ do Rio, argumentando que o a nova gestão valoriza os atletas em todo o território nacional e diz que a atitude do egrégio tribunal foi equivocada. Ora, solicito ao presidente que faça a defesa, então, dos trechos inconstitucionais deste estatuto aprovado.
Já o presidente
da Federação do Tacontins, Pedro Araújo, vai ao paroxismo quando
diz que os internautas se apropriaram da decisão dos desembargadores
para destruir a imagem do esporte. Chega a ser ridículo acreditar
que os desembargadores tomaram suas decisões baseados no que alguns
poucos descontentes (na visão dele) vem publicando.
O presidente da
entidade de Mato Grosso, Hélio Ribeiro, inicia a carta com a mesma
ladainha dos demais, dizendo que esteve presente à tal Assembleia e
que o estatuto aprovado foi o lido a todos. Lamenta também o fato de
não ter sido ouvido como testemunha. Diz que a decisão dos
desembargadores é desastrosa e que serve para favorecer um pequeno
grupo. Presidente, a modificação posterior no estatuto foi provada.
O Presidente do
Amazonas, Raimundo Gomes, diz que a decisão traz a ele muitos
transtornos em vista do calendário desportivo. Não explica onde
está o erro na decisão, mas diz esperar que a situação seja
resolvida. Será, sim.
Aí vem a carta do
presidente da Federação mineira que ocupou o lugar da original. O
senhor Lécio Mizael diz que a decisão do TJ está trazendo
desconforto. Explica que realizou isso..., realizou aquilo e que a
decisão compromete o desenvolvimento do trabalho. Só pode estar
brincando!
A carta do
Presidente da Federação de Rondônia, Frank Lopes, se reporta ao
planejamento da federação em relação às competições que estão
por acontecer e que a decisão do TJ irá transformar os sonhos deles
em caos. Em nenhum momento apresentou o erro do egrégio tribunal.
O presidente de
Santa Catarina, Adelino Filho, manifesta “repúdio frente à decisão
judicial que afronta a democracia e o poder máximo da entidade que é
a assembleia geral”. É impressionante como os caras não conseguem
entender que assembleias não estão acima das leis. Ele, com
certeza, não prestou atenção nas alterações que Pinto fez no
Estatuto cancelado pela justiça. Fala de instabilidade aos atletas,
como se estes fossem fruto de trabalho federativo. É outro que
parece entender federação como clube.
A carta do
Presidente do Rio Grande do Norte, Rivanaldo Freitas (também técnico
da Seleção Juvenil), não muda a cantilena. Parece uma cópia das
demais. Apenas acrescenta a insegurança que o fato irá causar, em
razão dos Jogos de Toronto e das Olimpíadas de 2016.
A carta do
presidente da Federação do Paraná, Fernando Madureira, não vou
nem comentar, pois o sujeito é simplesmente presidente de uma
federação e técnico da Seleção principal. E pior, recebendo
salário por isso. Que isenção tem pra falar alguma coisa?
Victor Amorim, da
federação pernambucana, parece ter dado um CRTL C e um CRTL V
(copiou e colou). Nada a dizer.
Daí vem a carta
do presidente da federação do Amapá, Auciney Maciel. Ele se mostra
preocupado com os prejuízos aos atletas e aos “resultados perante
o nosso esporte no cenário mundial”. O que isso tem a ver com o
cenário mundial, nobre presidente? O prejuízo mesmo pode recair
sobre a cabeça do outro técnico da seleção brasileira, Junior
Maciel (teria algum parentesco com o presidente?). Este certamente,
havendo uma nova gestão com gente séria, estará fora.
A carta do
presidente da federação de Roraima, Nailton Carneiro, pede a Pinto
que se mantenha firme em suas atitudes e que ele “não se deixe
abater por ações judiciais demandadas por quem nunca teve
compromisso com o taekwondo”. A ação judicial é da FTEMG. Baseado em quê o nobre presidente diz que esta federação não tem compromisso com o taekwondo?
O presidente da
federação do Piaui, Ricardo Paraguassu, fala do orgulho de se ter
atletas no ranking mundial. Usa também a ladainha para que Pinto não
se deixe abater por “ações demandadas por quem nunca teve
compromisso com o Taekwondo”. Perceberam, o CRTL C e CTRL V?
Roberto Elias da
Silva, de Mato Grosso do Sul, em carta minúscula, fala dos
transtornos causados pela decisão. Diz que não viu nenhum tipo de
alteração no estatuto. Realmente parece estar cego.
Em carta mais
robusta, José Junior, da Federação de São Paulo escreve, escreve
e não diz nada. Fico a imaginar os desembargadores lendo a carta
dele. Não vão entender nada, pois até em soberania nacional ele se
reporta, quando utiliza o espaço para criticar a vinda dos mestres
da Kukkiwon ao Brasil.
Já Francisco
Almeida Gomes, do Ceará, que inicia a carta da mesma forma pouco
criativa que as demais, diz assim: “Conhecemos muito bem as pessoas
que entraram contra a entidade na justiça”. Chega ao cúmulo de
associar a vitória do atleta paraibano, Netinho, nos Jogos Olímpicos da Juventude, ao
apoio que a CBTKD deu aos estados do nordeste. E o que isso tem a ver
com o caso, ínclito presidente?
A carta do
recém-empossado presidente da federação de Goiás, José Ricardo
Favorito, faz parecer que o taekwondo competitivo do Brasil começou
em 2011, quando diz que agora muitos atletas estão disputando
competições internacionais e conquistando títulos para o nosso
Brasil.
Itassi Camargo,
do Acre, que foi empossado logo após a federação legítima ter
sido desfiliada, diz se mostrar muito preocupado. Chega ao primarismo
de perguntar se a atleta do estado dele, classificada para o
campeonato mundial, será prejudicada com a decisão. Como se a vaga
da atleta fosse fruto do trabalho da federação. É outro que deve
achar que federação é clube. Triste.
Já o presidente
da federação alagoana, Gilberto da Silva, cita a escravidão pela
qual o taekwondo passava quando era dirigida por coreanos. Não fala
nada com coisa nenhuma para que sua carta esteja anexada aos
desembargadores.
O presidente da
federação de Sergipe, Eduardo Gonçalves, inicia a carta com
“imenso pesar”. Ele diz não entender por que as federações não
foram chamadas para serem ouvidas no processo. Eu respondo: os
desembargadores não são tolos. E completa a carta dizendo que o
judiciário foi induzido ao erro.
Desembargadores induzidos ao erro e
a CBTKD pagando os tubos a um dos escritórios de advocacia mais
conceituados do Brasil? Ora, senhor presidente, não sejamos
ingênuos.
O presidente da
federação gaúcha, Olzemir Machado, diz que a decisão está
causando o caos para os atletas. Dai fala em Olimpíada, em ranking
em definição de atletas. Uma cartinha sofrível.
A carta do
presidente da Federação do Pará, assinada por Denilson Costa, vem
com título: INDIGNAÇÃO do PARÁ. Vamos deixar só uma frase dele:
“a assembleia geral é unânime e suprema”. Imagina um
desembargador lendo isso?
A Federação da
`Paraíba, presidida por Tomaz Azevedo, também manda carta com
título: “Federação Paraibana lamenta erro do judiciário do Rio
de Janeiro”. Ele afirma que as 27 federações através do voto
direto resolveram desfiliar as federações “ora em questão”.
Acredita que uma assembleia tem esse poder. E ele finaliza dizendo
que as federações desfiliadas não cumpriram com o que está
escrito no estatuto. Que estatuto? O que foi anulado pela justiça? faça-me o favor...
E por fim o
presidente da federação do Distrito federal, Ademar Inácio
Lamóglia. Ele escreve a mesma coisa que os demais, mas faz questão
de frisar que a CBTKD é regida por seu estatuto e que as assembleias
são soberanas. Ora, presidente, ninguém discorda. Porém, acima do
Estatuto estão as leis do país. A Assembleia soberana, por exemplo,
não pode alterar regras legais que estão na Constituição Federal.
É por essas e
outras que continuo afirmando que falta muita cultura desportiva aos
presidentes das federações de taekwondo do Brasil.
Então, nobres
presidentes, se o Pinto cair, seria de bom alvitre que os senhores abrissem mão de seus mandatos em
solidariedade a este revolucionário presidente. E se a justiça confirmar a ilegalidade, os senhores devem também ser afastados, pois foram cúmplices desta ilegalidade. Ou não?