Marcus Rezende
Com tanto dinheiro público jorrando nos cofres da CBTKD,
fica fácil para quem comanda entidade, pôr nas mãos a maioria absoluta dos presidentes
das federações. Pra reinar absoluto, o chefe precisa do apoio incondicional de
pelo menos 14 deles. Dessa forma, com
tanto cargo remunerado com dinheiro público, podemos afirmar sem erro que essa não é a
maior preocupação do Rei.
Além dos cargos remunerados, há para o deleite financeiro
dos apoiadores do chefe, a promessa dos
investimentos que a entidade mãe pode fazer às filiadas. Como exemplo, temos o apoio às competições abertas, chanceladas pela CBTKD, e que valem pontos no ranking nacional. A pergunta é: para onde vai a grana das inscrições
destas competições?
O preâmbulo acima
serve para que os faixas-pretas deste país comecem a perceber que se tornaram peças descartáveis deste jogo. Os mestres e professores só perdem quando começam a estimular seus
praticantes a se tornarem atletas.
Não vou enumerar aqui o quanto de prejuízo tal investimento
acarreta; cada formador de atleta sabe muito bem o custo-benefício em se doar
para dar as bases competitivas ao praticante. Muitas vezes, depois de anos de
desgastes, a ficha daquele praticante seduzido a virar atleta cai e ele percebe
o futuro incerto que o taekwondo de alto rendimento pode lhe proporcionar.
Uns nem chegam a decolar, pois abandonam o jogo, logo que descobrem quão
despreparados são os dirigentes do taekwnondo brasileiro.
Há mestres, hoje, que relatam se arrependerem de terem
influenciado alguns praticantes a se tornarem atletas. Isso porque, muitos abandonaram
os estudos e se dedicaram integralmente ao treinamento e à busca de uma vaga na seleta Equipe Olímpica do Brasil.
Mesmo recebendo uns caraminguás, alguns atletas acabam
acreditando que a vida dura (de treinamentos diários) trará a ele o merecido
reconhecimento no futuro. Ledo engano. Depois que a carreira acaba, nem tapinha nas costas ele recebe.
Quero, todavia, deixar claro que em qualquer país
desenvolvido, a entrega de um atleta ao mundo competitivo vale a pena. Lá fora, pra começo de conversa, não há chances para a mediocridade
administrativa. Assim sendo, os atletas,
possuem a certeza de que à frente de suas entidades estão pessoas preparadas.
Aqui, é tudo estranho e bem diferente. Talvez tenhamos dirigentes que sobrevivam financeiramente
das entidades que comandam. O cerco lucrativo passa também pelo momento em que
o formador (mestre ou professor) precisa levar ao primeiro Dan o atleta que
está treinando, para que ele possa lutar como um faixa preta.
Nesse momento, eis que pode aparecer a figura do presidente dizendo que o atleta só pode lutar no circuito olímpico brasileiro se fizer
exame de faixa preta com a banca examinadora que a entidade definir. Nessa
hora, a federação pode decidir que o mestre examinador, coincidentemente será o
presidente da entidade, em razão da
graduação que possui. E, aí, o postulante à faixa-preta (que tem o sonho
olímpico) terá de pagar a taxa de exame a este examinador. É muito comovente!!!
Portanto,
mestres professores de taekwondo deste
Brasil, enquanto este tipo de dirigente estiver dirigindo a federação do seu
estado, não leve seus praticantes às competições organizadas por elas. Ensine
as bases do taekwondo marcial e do competitivo, naturalmente.
Não se intimide com ameaças destes dirigentes. A lei te protege. Eles não são
donos do taekwondo. Eles são donos da federação que comandam.
Passe a cuidar de sua academia. Crie o certificado de sua escola. Ao faixa-preta, encontre meios de registrá-lo em entidades internacionais reconhecidas, como a Kukkiwon.
Não é função de federação e confederação graduar praticantes de taekwondo. Por acaso a WTF entrega certificado de faixa-preta? Apenas pede que o faixa preta comprove a graduação por meio de certificação de entidades como a Kukkiwon.
Experimente levar a sua carteirinha da CBTKD a uma competição aberta chancelada pela WTF e tente se inscrever.
Há de chegar o dia em que a CBTKD terá um presidente digno
de respeito. Alguém que terá a coragem de chegar ao pé do ouvido de cada
dirigente estadual e dizer a ele: "vamos consertar tudo isso; está tudo errado". E complementar humildemente que não é correto o que
vem sendo feito com os mestres e professores deste país.
Quando esse dia chegar, voltemos a nos filiar.