Mestre
Jair Queiroz
Num
certo reino decadente havia um homem que se apresentava como vendedor
de ilusões. Tinha um porte altivo e uma verve invejável, embora
fosse um tanto bronco e nenhum pouco dado a erudições. Tudo o que
sabia fazer era vender ilusões.
Muitos
o admiravam e adquiriam o produto que ele lhes oferecia sem nenhum
questionamento. O argumento que ele empregava para convencê-los era
basicamente o seguinte: “Ninguém vive sem
ilusão, pois ela é o reflexo dos nossos desejos. Quanto mais
desejamos, mais nos iludimos e iludidos corremos atrás da realização
dos nossos sonhos. Se não temos ilusão é porque não desejamos e
se nada desejamos, nada realizaremos”.
Era
convincente o bastante e as vendas se multiplicavam. Chamavam-no, por
isso, de “O Mago das Ilusões”, um verdadeiro bruxo, capaz de
vender o invisível.
Porém
o grande mago das vendas não dava garantias da eficácia daquilo que
vendia, dizendo que isso faria com que os iludidos se tronassem
pragmáticos, analíticos, o que tornaria a ilusão uma mercadoria
sem valor. “Se vocês destruírem a fantasia
das ilusões ela perderá o efeito – dizia
- então é primordial que continuem sonhando, acreditando e se
iludindo. Só assim terão a energia para continuar apostando que um
dia tudo será melhor”.
Com
o passar do tempo, muitos dos compradores de ilusões foram perdendo
as esperanças, pois a prometida realização não vinha. Passaram a
desconfiar das suas promessas grandiosas, mas que não lhes ofereciam
qualquer segurança.
Consultaram
então um sábio local e lhe disseram. “Ele
nos vende ilusões dizendo ela poderá nos redimir dos fracassos do
passado, mas não vemos resultados concretos. O rombo financeiro
aumenta, as perseguições continuam e as denúncias de má gestão
de dinheiro público se multiplicam. O que nos falta compreender?
– perguntaram.
O
sábio, vendo o desespero no olhar daqueles, meditou, e, no fim, lhes
disse: “É preciso que removam a venda que
lhes escurecem a visão. A ilusão se aproveita da escuridão e a
escuridão conduz ao abismo. São mágicos os que dizem criar
realidade do nada absoluto e os mágicos são apenas artistas que
usam truques para falsear a realidade. A verdade, senhores, é mais
dura, porém é a única maneira de se chegar ao sucesso. Requer
planejamento, senso administrativo e sabedoria no trato com as
pessoas. Além disso, ela não é vendida, mas oferecida
graciosamente aos que tem senso de justiça, equidade e discernimento
e pensam não apenas no próprio e imediato sucesso, mas no bem
coletivo e duradouro”.
E
assim, aos poucos, seus admiradores foram se convencendo e o vendedor
de ilusões passou a ser repudiado e detestado por todos, menos por
seus principais sequazes, aqueles cegos, adoecidos pela vaidade
pessoal e a sanha de poder absoluto.
Esses,
fatalmente, afundarão com ele “para a nossa
alegria!”
Mestre Jair
Queiroz – 5º Dan – Londrina – PR.
(Perseguido pela Santa Inquisição da CBTKD)