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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O homem que vendia ilusões


Mestre Jair Queiroz
Num certo reino decadente havia um homem que se apresentava como vendedor de ilusões. Tinha um porte altivo e uma verve invejável, embora fosse um tanto bronco e nenhum pouco dado a erudições. Tudo o que sabia fazer era vender ilusões.
Muitos o admiravam e adquiriam o produto que ele lhes oferecia sem nenhum questionamento. O argumento que ele empregava para convencê-los era basicamente o seguinte: “Ninguém vive sem ilusão, pois ela é o reflexo dos nossos desejos. Quanto mais desejamos, mais nos iludimos e iludidos corremos atrás da realização dos nossos sonhos. Se não temos ilusão é porque não desejamos e se nada desejamos, nada realizaremos”.
Era convincente o bastante e as vendas se multiplicavam. Chamavam-no, por isso, de “O Mago das Ilusões”, um verdadeiro bruxo, capaz de vender o invisível.
Porém o grande mago das vendas não dava garantias da eficácia daquilo que vendia, dizendo que isso faria com que os iludidos se tronassem pragmáticos, analíticos, o que tornaria a ilusão uma mercadoria sem valor. “Se vocês destruírem a fantasia das ilusões ela perderá o efeito – dizia - então é primordial que continuem sonhando, acreditando e se iludindo. Só assim terão a energia para continuar apostando que um dia tudo será melhor”.
Com o passar do tempo, muitos dos compradores de ilusões foram perdendo as esperanças, pois a prometida realização não vinha. Passaram a desconfiar das suas promessas grandiosas, mas que não lhes ofereciam qualquer segurança.
Consultaram então um sábio local e lhe disseram. “Ele nos vende ilusões dizendo ela poderá nos redimir dos fracassos do passado, mas não vemos resultados concretos. O rombo financeiro aumenta, as perseguições continuam e as denúncias de má gestão de dinheiro público se multiplicam. O que nos falta compreender? – perguntaram.
O sábio, vendo o desespero no olhar daqueles, meditou, e, no fim, lhes disse: “É preciso que removam a venda que lhes escurecem a visão. A ilusão se aproveita da escuridão e a escuridão conduz ao abismo. São mágicos os que dizem criar realidade do nada absoluto e os mágicos são apenas artistas que usam truques para falsear a realidade. A verdade, senhores, é mais dura, porém é a única maneira de se chegar ao sucesso. Requer planejamento, senso administrativo e sabedoria no trato com as pessoas. Além disso, ela não é vendida, mas oferecida graciosamente aos que tem senso de justiça, equidade e discernimento e pensam não apenas no próprio e imediato sucesso, mas no bem coletivo e duradouro”.
E assim, aos poucos, seus admiradores foram se convencendo e o vendedor de ilusões passou a ser repudiado e detestado por todos, menos por seus principais sequazes, aqueles cegos, adoecidos pela vaidade pessoal e a sanha de poder absoluto.
Esses, fatalmente, afundarão com ele “para a nossa alegria!”
Mestre Jair Queiroz – 5º Dan – Londrina – PR.
(Perseguido pela Santa Inquisição da CBTKD)