Marcus Rezende
Se sairmos hoje às
ruas perguntando às pessoas se conhecem a capoeira, o caratê, judô,
jiu jitsu e até mesmo o Muai Thay, dirão que sim; que são lutas marciais de cuja eficiência cada uma delas se caracteriza
distintamente uma das outras.
E o taekwondo? A
maioria dirá que não conhece. Outras dirão se tratar de uma luta.
Algumas lembrarão tratar-se da modalidade da medalhista olímpica
Natália Falavigna e de Diogo Silva (os maiores ícones brasileiros desta
modalidade marcial desportiva).
Porém, a
esmagadora maioria dos que disserem conhecer o taekwondo descreverá
o seu conhecimento pelo ângulo desportivo e dirá tratar-se de uma
luta cujas características se baseiam em regras definidas pelo
contexto do olimpismo. Ou seja, uma modalidade para cuja eficiência
marcial o atleta precisa saber usar as pernas.
Diferentemente do
taekwondo, as regras de competição das lutas marciais sobreditas
não passam pela gigantesca diferença entre o que se ensina na
academia enquanto arte marcial e o que se pode utilizar na hora da
competição.
Já na modalidade
coreana, a diferença é brutal. Pergunte ao professor ou mestre de
taekwondo quantas vezes precisou explicar aos outros (àquele que diz
conhecer o taekwondo) que a arte marcial não se limita ao
uso das pernas, e que o aluno aprende também a socar, defender-se, aplicar
cotoveladas, cuteladas, joelhadas, chutes baixos, entre outras
técnicas proibidas na competição olímpica.
A partir deste
ponto, chegamos ao cerne do problema que envolve o taekwondo marcial
praticamente desconhecido e o taekwondo olímpico parcialmente
divulgado e entendido por regras específicas. Toda vez que o
taekwondo tem a oportunidade de aparecer na mídia, uma luz de
esperança acalenta o coração de quem ensina a modalidade. Fica
sempre a esperança de que no dia seguinte, dezenas de pessoas
estarão se matriculando em academias próximas de onde residem. Foi assim em 2000,
quando o Brasil participou com a atleta Carmen Carolina, nas
Olimpíadas de Sidney, até o dia em que Natália Falavigna empunhou
a tão sonhada medalha olímpica em Pequim 2008.
Porém, de
concreto, no que concerne ao verdadeiro conhecimento do que seja a
modalidade, nada aconteceu. As academias continuam vazias e o
interesse pelo taekwondo ficou ainda mais comprometido com a forte
exposição na mídia dos eventos de MMA, para cujo acesso (sobretudo
no UFC ) os requisitos marciais de um lutador estão no domínio do
Jiu jitsu, Muai Thay, Wrestle e um pouco do caratê por causa do
lutador Lioto Machida. Para desconstruir um pouco esta máxima, nem o
nosso embaixador do taekwondo, Anderson Silva, deu uma forcinha.
Dessa vez a
comunidade docente taekwondista se apega à nova exposição da
modalidade à telinha da Globo. A novela Malhação abrirá espaço
para apresentar, mais uma vez, o taekwondo como esporte e não como
arte marcial. O ator Murilo Rosa, que foi praticante nos anos de 1980
e 1990, fará o papel de treinador de um atleta. A direção será
coordenada pelo abnegado mestre Alan do Carmo, do Rio de Janeiro, e
toda a trama dar-se-á em torno de uma competição.
Para efeito de
divulgação do nome Taekwondo, tal inserção na mídia global é
melhor do que nada. Mas muito aquém do
que precisamos para divulgar maciçamente a essência da modalidade.
Assim sendo,
temos que permanecer conscientes de que o caminho para a ascensão
desportiva do taekwondo, por mais paradoxal que seja, está no
fomento da modalidade enquanto arte marcial.
Por mais que a
internet esteja ajudando neste propósito, com a divulgação de
diversos vídeos, há muito o que fazer. Os professores e o mestres
precisam levar a modalidade para fora das quatro paredes de suas
academias e apresentá-la dessa forma à sociedade. O lado
competitivo, obviamente, deve estar inserido como parte do
contexto, porém, subjugado a alusão clara de que o atleta surge do seio
marcial.
Assim penso.