Marcus Rezende
Foto: Semile Rigobele
Jogos Abertos de 2013 - Alguns dos responsáveis pela nova geração de atletas brasileiros. Da esq. para a dir: Frederico Mitooka, Washington Azevedo, os talentosos irmãos Reginaldo e Clayton Santos, Belmiro Giordani e Sérgio Alberto
Pode ser até
glamouroso realizar uma competição para definir os atletas que vão
compor a seleção brasileira de taekwondo para o ano inteiro. Pode
ser...Porém, em minha opinião, é insensato e contraproducente,
visto que o ânimo de representar a Seleção deve estar
aberto o ano inteiro.
Com a fórmula atual
que perdura desde 2003, aos vencedores, pura felicidade. Aos que
perderam, pura desolação.
Cá pra nós, se nem
nas seleções de esportes coletivos isso ocorre, por que então tem
que ocorrer justamente em um esporte individual como o taekwondo?
Vamos usar como
exemplo o futebol. Alguma vez a CBF definiu uma Seleção Brasileira
para o ano inteiro? Nunca. Por quê? Porque os atletas podem estar em
boas condições físicas e técnicas hoje e não tão bem dois meses
depois. O que a CBF faz? Realiza CONVOCAÇÕES. E o taekwondo o que
deveria fazer? Realizar SELETIVAS para as competições do ano em
curso. Está é a lógica que deveria permear nossa modalidade
esportiva.
É necessário
acrescentar, obviamente, que a realidade atual deste esporte marcial
é movimentada por dinheiro público, o qual vem bancando todas as
atividades da confederação. E aí perguntariam: como então definir
aqueles que seriam bancados com esta verba pública? Ora, se é
preciso nomes de atletas para uma remuneração, que se pense em uma
fórmula por meio da qual, durante o ano em curso, os merecedores
conquistem esta benesse, sem atrelamento à vaga definitiva na
seleção. A Seletiva de início do ano não poderia servir para este
fim?
Por outro lado, em
vez de definir uma seleção para o ano inteiro, a CBTKD poderia
também dar aos atletas brasileiros mais bem posicionados no ranking
nacional e internacional status de atleta de seleção, tão-somente. Não estou dizendo, no entanto, que as regras para este ano devam ser modificadas. Já foram definidas e devem permanecer; seria uma injustiça com o trabalho árduo dos jovens irmãos treinadores de São Caetano, Reginaldo e Clayton Santos que puseram cinco atletas neste seleto grupo. Porém, é preciso que se faça esta reavaliação a partir de 2015.
Do jeito que está,
os “derrotados” da seletiva definidora (que ocorre sempre em
início de temporada), além da frustração da não conquista da vaga, para
terem nova oportunidade, terão de viajar loucamente pelos OPENS caça
niqueis, Brasil afora, para acumular pontos no ranking nacional e
poderem competir novamente na seletiva única em 2015. O resultado,
em muitos casos, em razão desta maratona, é o desestímulo de
muitos atletas que, às vezes, param de competir para cuidar da vida.
E quem perde com isso: o taekwondo brasileiro.
É preciso olhos
atentos para enxergar que a fórmula está equivocada desde 2002, ano
em que a Lei Piva iniciou o repasse de verba pública à CBTKD. A
entidade, a partir desta época, assumiu uma postura paternalista e
trouxe pra si a responsabilidade de preparar os atletas brasileiros,
desconsiderando completamente o fato de que cada um deles possuía o
próprio treinador.
Ao longo desses 12
anos, as Comissões Técnicas da CBTKD foram se intrometendo no
trabalho dos treinadores brasileiros, os quais passaram a não
conseguir plenamente planejar a vida técnica e atlética de seus
atletas. E nessa toada, a Comissão da CBTKD, “viajando na
maionese”, ia acreditando (como acredita até hoje) que o trabalho
de desenvolvimento do jovem tinha de ser de responsabilidade deles.
Já imaginaram, por
exemplo, a CBDA decidindo que vai começar a treinar o César Cielo?
Algum dos leitores consegue imaginar isso? Por que não? Por que o
cara é o melhor do mundo e treina nos EUA com o próprio treinador
para ganhar medalhas para o Brasil.
Por que então aqui
no Brasil querem reunir uma Seleção de atletas de Taekwondo e dar a
eles uma direção que eles já possuem? Vão dizer (por exemplo) a
Natália, ao Diogo, Márcio; aos Guilhermes e aos jovens de São Caetano como devem treinar? Eles
não sabem? Não possuem seus treinadores?
Com cinco atletas nesta seleção formada, os geniais irmãos de São
Caetano (Clayton e Reginaldo Santos) vão perder seus atletas para a
vaidade da Comissão Técnica da Seleção Brasileira? Ou serão
convocados para dar continuidade ao mesmo erro atualmente perpetrado? Os treinadores querem tranquilidade e apoio para continuar a produzir talentos para o taekwondo brasileiro.
Portanto, é hora de
a CBTKD acordar. O Taekwondo é um esporte individual. Temos atletas
de altíssimo nível no Brasil que só precisam que a entidade não
os atrapalhe.
O Taekwondo
brasileiro, por meio do trabalho de alguns treinadores, vem tentando
criar uma forma própria de se conduzir. Porém, a CBTKD não está
acompanhando esta nova realidade. Para finalizar, fica aqui o meu louvor ao trabalho realizado em São Caetano. O taekwondo brasileiro já começa a ficar devendo também a Reginaldo e Clayton Santos.