Quando os mestres
coreanos chegaram ao Brasil, nos anos de 1970, Chong Hong Hi (que
presidia a Federação Internacional de Taekwondo) e que idealizou a chegada destes mestres a diversos países do mundo, deixou definida uma ideia
de como deveriam proceder no que se refere ao recebimento de taxas de
exames de faixa - pensando em um futuro mais tranquilo a estes instrutores.
A orientação básica
era a de que - a partir do momento em que surgissem os primeiros
instrutores brasileiros – deveriam repassar a eles parcela destes
honorários.
Choi idealizou uma
tabela de 30, 40, 50, 60, 70, 80, 90 e 100%, do 1º ao 8º dan,
respectivamente. Ele fez isso sob a premissa lógica de que os
coreanos não teriam a mesma saúde para ensinar, quando tivessem com
60 e 70 anos e que precisariam criar uma cadeia moral indissolúvel
que assegurasse uma espécie de aposentadoria àqueles que depois de muitos anos não
teriam mais saúde para tanto esforço.
Como isso deveria
ocorrer? Nos primeiros anos, os coreanos receberiam 100% de todos os
exames de seus próprios alunos. Ao formarem os primeiros faixas
pretas (1º dan) passariam a receber 70% do total das taxas de exame
dos alunos de seus faixas pretas. Assim, quando estes faixas-pretas
brasileiros chegassem ao 2º dan, o mestre coreano passaria a ganhar
dele 60%. Isso já poderia ter ocorrido a partir de 1973. Mas só foi
acontecer no final dos anos de 1980 e de forma totalmente desordenada
e sem um propósito lógico.
Para um melhor
entendimento da proposta criada por Choi e que não foi implementada
no Brasil, imaginemos um de nossos grão-mestres coreanos 9º dan,
com 20 alunos brasileiros 7º Dans. Vamos pensar apenas em um deles,
o qual hipoteticamente possuísse um aluno 5º dan que, por sua vez,
também tivesse um aluno 4ª Dan; e este último um 1º Dan.
Pensemos então na
hipótese deste menos graduado levar para um exame de faixa uma
quantidade de alunos, cujo valor total das taxas totalizasse R$ 10
mil. Como seria essa divisão, em meio a esta cadeia de professores,
mestres e grãos mestres? O 1º dan receberia 30% (R$ 3 mil).
Sobrariam R$ 7 mil. O professor dele, 4º Dan, ficaria com 60% do
que sobrasse (R$ 4.200). Sobrariam R$ 2.800. O professor seguinte,
que no exemplo hipotético é o 5º dan, auferiria 70% da sobra (R$
1.960). E o restante deste montante (R$ 840) iria para o velho
mestre, o último da cadeia. Pouco? Pense no seguinte: este seria apenas um
braço desta cadeia. Quantos braços nossos grãos mestres coreanos
criaram ao longo destes mais de 40 anos de taekwondo no Brasil?
Ou seja, aquele
primeiro coreano introdutor do taekwondo, hoje idoso, que formou
diversos outros grão-mestres, teria, todo mês, percentuais pequenos
de diversas cadeias de mestres formados por ele ao longo dos anos.
Pense...em uma cadeia norteada pela moral desde o início, quem teria
coragem de quebrar com a ética? Quem deixaria de separar para o
velho mestre aquele percentual pequeno de sua cadeia? Dificilmente
alguém quebraria tal pirâmide do bem.
Mas isso não
ocorreu. O imediatismo prevaleceu. E qual o cenário hoje? Os velhos coreanos com grupos
espalhados sem a unidade idealizada por Choi e cada qual realizando o
seu próprio trabalho, cometendo os mesmos erros dos velhos
introdutores, como se a velhice não fosse chegar um dia a eles
também.