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quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Erro repetido por mestres brasileiros

Marcus Rezende

Quando os mestres coreanos chegaram ao Brasil, nos anos de 1970, Chong Hong Hi (que presidia a Federação Internacional de Taekwondo) e que idealizou a chegada destes mestres a diversos países do mundo, deixou definida uma ideia de como deveriam proceder no que se refere ao recebimento de taxas de exames de faixa - pensando em um futuro mais tranquilo a estes instrutores.
A orientação básica era a de que - a partir do momento em que surgissem os primeiros instrutores brasileiros – deveriam repassar a eles parcela destes honorários.
Choi idealizou uma tabela de 30, 40, 50, 60, 70, 80, 90 e 100%, do 1º ao 8º dan, respectivamente. Ele fez isso sob a premissa lógica de que os coreanos não teriam a mesma saúde para ensinar, quando tivessem com 60 e 70 anos e que precisariam criar uma cadeia moral indissolúvel que assegurasse uma espécie de aposentadoria àqueles que depois de muitos anos não teriam mais saúde para tanto esforço.
Como isso deveria ocorrer? Nos primeiros anos, os coreanos receberiam 100% de todos os exames de seus próprios alunos. Ao formarem os primeiros faixas pretas (1º dan) passariam a receber 70% do total das taxas de exame dos alunos de seus faixas pretas. Assim, quando estes faixas-pretas brasileiros chegassem ao 2º dan, o mestre coreano passaria a ganhar dele 60%. Isso já poderia ter ocorrido a partir de 1973.  Mas só foi acontecer no final dos anos de 1980 e de forma totalmente desordenada e sem um propósito lógico.
Para um melhor entendimento da proposta criada por Choi e que não foi implementada no Brasil, imaginemos um de nossos grão-mestres coreanos 9º dan, com 20 alunos brasileiros 7º Dans. Vamos pensar apenas em um deles, o qual hipoteticamente possuísse um aluno 5º dan que, por sua vez, também tivesse um aluno 4ª Dan; e este último um 1º Dan.
Pensemos então na hipótese deste menos graduado levar para um exame de faixa uma quantidade de alunos, cujo valor total das taxas totalizasse R$ 10 mil. Como seria essa divisão, em meio a esta cadeia de professores, mestres e grãos mestres? O 1º dan receberia 30% (R$ 3 mil). Sobrariam R$ 7 mil. O professor dele, 4º Dan, ficaria com 60% do que sobrasse (R$ 4.200). Sobrariam R$ 2.800. O professor seguinte, que no exemplo hipotético é o 5º dan, auferiria 70% da sobra (R$ 1.960). E o restante deste montante (R$ 840) iria para o velho mestre, o último da cadeia. Pouco? Pense no seguinte: este seria apenas um braço desta cadeia. Quantos braços nossos grãos mestres coreanos criaram ao longo destes mais de 40 anos de taekwondo no Brasil?
Ou seja, aquele primeiro coreano introdutor do taekwondo, hoje idoso, que formou diversos outros grão-mestres, teria, todo mês, percentuais pequenos de diversas cadeias de mestres formados por ele ao longo dos anos. Pense...em uma cadeia norteada pela moral desde o início, quem teria coragem de quebrar com a ética? Quem deixaria de separar para o velho mestre aquele percentual pequeno de sua cadeia? Dificilmente alguém quebraria tal pirâmide do bem.

Mas isso não ocorreu. O imediatismo prevaleceu. E qual o cenário hoje? Os velhos coreanos com grupos espalhados sem a unidade idealizada por Choi e cada qual realizando o seu próprio trabalho, cometendo os mesmos erros dos velhos introdutores, como se a velhice não fosse chegar um dia a eles também.