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quarta-feira, 20 de maio de 2015

Depois que o Mandrake se for

Marcus Rezende

   Depois que o Mandrake se for, e esperamos que isso não demore muito, será preciso dar um jeito nas estruturas do taekwondo brasileiro, visando, no caso da CBTKD, obviamente, chegarmos a um patamar, dentro das competições internacionais, no mesmo grau das grandes potências. E isso é possível, haja vista as surpresas que o taekwondo brasileiro vem aprontando em cima de muitos favoritos. Porém, a coisa precisa ficar mais consistente.

E onde estaria esta consistência? Na forma de enxergar a diversidade de nosso país, deixando de achar que os taekwondistas precisam passar por um funil federativo. Funil este que afasta mais do que agrega. Um funil presidido, no mais das vezes, por gente que só pensa na grana que vai arrecadar nos exames de faixa.

    Dirigentes desportivos não têm que organizar exames de faixa. Qual o sentido lógico disso a não ser ganhar o dinheiro dos outros? É preciso acabar com essa “cara de pau” de ficarem justificando que a banca de exame da entidade é necessária para evitar a formação de faixas pretas com pouca técnica. Achando ele, o dirigente, por conta da graduação, ser possuidor de todo o conhecimento marcial.

    E nessa toada anômala o que tem de dirigente graduado, examinador, que não sabe dar um yop tchagui ou cair direito em uma base “bom sogui” é uma grandeza. E ainda querem posar de sabedores do taekwondo marcial. Ah...vão procurar o que fazer. Deixa os exames de faixas com as escolas de cada mestre. Cada um que assuma seus erros ou acertos. Afinal de contas, se uma escola de taekwondo formar maus faixas pretas, o ônus será daquela escola, e não da federação ou confederação.

   Outra anomalia é a tal política de competições estaduais obrigatórias para se avançar dentro do sistema competitivo nacional. O dirigente, hoje em dia, sai criando etapas estaduais, fazendo que os faixas pretas sejam obrigados a participar de todas elas. Além disso, como se não bastasse, a CBTKD vai chancelando competições abertas, organizadas por estes mesmos presidentes, Brasil afora. Um verdadeiro caça-níquel. Tais eventos deixam o atleta brasileiro sem dinheiro e desgastados fisicamente. Isso porque precisam participar, se quiserem ter pontuação adequada que o leve a uma tal de seletiva fechada com os mais bem ranqueados do país. Nada contra a realização de Opens para arrecadar recursos para a entidade, valendo pontos no ranking nacional aos que forem ao pódio. Mas o que não se pode fazer é impedir (na reta final) o atleta, que optou por participar de poucas competições, de disputar a seletiva derradeira por não ter conquistado o mínimo de pontos necessários. Ora, a penalização deste atleta será uma posição menos privilegiada na chave.

    E dentro do anacronismo do taekwondo brasileiro temos o ultrapassado Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil realizados por seleções estaduais cujos técnicos são escolhidos pelos presidentes das federações. A Federação passa neste momento a ser uma equipe com treinador, preparador físico etc. Os atletas destes estados, às vezes, são obrigados a participar de treinamentos organizados pela federação. Ao se recusarem, passam a ser mal vistos pelos dirigentes.

    É por isso que, feito os ajustes principais, estes dirigentes precisam partir do pressuposto de que o Taekwondo é um esporte individual. Sendo assim, o atleta escolhido para representar o Brasil não tem que passar a treinar com o treinador que a CBTKD escolheu como técnico da Seleção Brasileira para a competição do momento. O atleta precisa continuar treinando com o seu treinador e irá se apresentar dentro do calendário de viagem da entidade. É preciso parar com essa vaidade de juntar os atletas em um local específico, em data determinada, para realizar um treino conjunto com os treinadores escolhido pelo chefe-mor, por mais competência que possua esse treinador.

   Hoje, todo atleta brasileiro de ponta está ligado a um grupo. O técnico brasileiro escolhido é que têm que sair da zona de conforto e viajar pelo Brasil e ver de perto o trabalho dos atletas.
Não pode a CBTKD achar que também é uma agremiação. Os atletas quando partem para uma competição internacional, já estão preparados.

    E entre tanto a se fazer no Brasil para o desenvolvimento do taekwondo competitivo há também algo de fundamental importância. Não deixar que os formadores de atletas desanimem e parem de nos trazer talentos descobertos. O mínimo que estes treinadores merecem é reconhecimento.

     E assim, partindo de uma visão desportiva descentralizada, o taekwondo brasileiro tem todas as chances de se tornar uma das principais potências do taekwondo Olímpico, desde que o Mandrake vá embora.