Marcus Rezende
O Campeonato Mundial
de Taekwondo de 2015, que ocorreu na Rússia, na cidade de
Chelyabinks, entre os dias 12 e 18 de Maio, demonstrou claramente que
a permanência das regras de pontuação e baixa calibragem dos
protetores eletrônicos (privilegiando os toques leves com a perna da
frente), teremos cada vez mais atletas compridos e magros no lugar
mais alto do pódio.
Neste jogo
técnico totalmente diferente do que fomos acostumados a ver (chutes
fortes desferidos de trás explodindo no colete do adversário), basta um toque com a sola ou dorso do pé no colete eletrônico para
que o ponto vá direto pro placar. Há inclusive anomalias técnicas que estão sendo utilizadas nos momentos de clinche e que surtem resultado.
Grosso
modo, o taekwondo que estamos vendo está se tornando uma espécie de
esgrima com as pernas da frente. Nesta competição, raras foram às
vezes que vimos movimentos contundentes buscando um nocaute.
A questão é: até
que ponto este tipo de jogo vai entreter o público?
Pra responder esta
pergunta a mim mesmo, chamei um aluno faixa branca para assistir uma
das lutas da categoria até 58kg, no primeiro dia do Mundial. Acessei
a página na internet e o deixei à vontade com as imagens que
rolavam ao vivo. Ele não ficou à frente do computador por um minuto
sequer. Desconversou e saiu. Só não disse que era entediante por
respeito.
Estamos falando de
uma arte marcial que, para atender a pré-requisitos do Comitê
Olímpico Internacional, está se descaracterizando completamente.
Eu acredito (posso
estar errado) que uma decisão modificaria completamente esta
situação e traria ao taekwondo competitivo uma maior visibilidade
técnica: o aumento da calibragem nos protetores eletrônicos nos
moldes do Mundial de 2011. Se isso fosse feito, técnicas dos
chutes duplos e triplos, saídas em linhas com contra-ataques
contundentes, entre outras valências técnicas de um taekwondo
vistoso (que foram sumariamente excluídas), devolveriam à
modalidade olímpica uma maior semelhança com o taekwondo marcial.
É bom que se diga:
atletas e técnicos não tem culpa. Eles jogam conforme as regras e
fazem isso muito bem. Um exemplo de como jogar bem o jogo dos pontos
e da excelente utilização da altura e pernas da frente pôde ser
visto no atleta do Irã, da categoria até 80 Kg, Madhi Khodabakhshi.
Ele simplesmente não tomou conhecimentos dos adversários. Nas
últimas lutas deste Mundial, venceu o brasileiro André Bilia por
8x1, o norte americano Steven Lopez (pentacampeão mundial) por 13 x
1, administrou a semifinal contra o alemão Tahir Guelec por 8 x 6 e fez a final passando por cima do britânico Demon Sansum por 16 x
3. A habilidade demonstrada por Madhi, para dar toques no protetor e
chutes no rosto com a perna da frente de forma totalmente sutil, foi impressionante.
Mas houve quem
fugisse à regra deste jogo. O turco Servet Tazegul, da categoria até
68 Kg (o turco louco), campeão mundial de 2011 e Olímpico em
Londres 2012, buscou a contundência dos chutes rodados. Mais uma vez
deu o show que se esperava. Na semifinal e final, enfrentando atletas
bem mais altos e que faziam o jogo dos pontos com a perna da frente,
ele buscou alternativas por meio de suas piruetas. Desbancou o coreano
por 16 x 13 e o russo Alexey Denisenko por 10 x 7, na final. Fazendo
uma luta perigosa, ele desafiou as regras técnicas postas ao jogo e
fez o que sabia: partir pra cima.
Outro que também
fugiu à regra foi o belga Jaouad Achab. O mais baixo do pódio (mas
que estava no lugar mais alto dele) se sobressaiu por sua extrema
velocidade e por não fazer o jogo das pernas esgrimando. Ele usava,
sim, a perna da frente. Mas utilizava-a com muita precisão. Fez a
final com o espanhol Joel Bonilla (bicampeão mundial
2009 e 2011 e Olímpico em Londres 2012), muito mais alto, conseguindo vencê-lo com um jogo alternativo e envolvente.
O turco Servet Tazegul aplicando um tui tchagui no russo Alexey Denisenko na final do Mundial na categoria até 68 kg |