Marcus Rezende
Tornou-se comum a afirmação, sobretudo no meio da mídia nacional, de que o taekwondo conhecido não é o marcial, mas sim o desportivo. Isso porque, a partir de sua ascensão à elite olímpica, as transmissões das competições tornaram-se mais constantes.
O que para praticantes, professores, mestres e dirigentes é uma variável complexidade de técnicas, ao público em geral, o taekwondo é tão-somente um esporte cujas técnicas são limitadas a regras impostas. Grande parte delas possui movimentos de velocidade de pouco efeito prático quando se pensa na modalidade enquanto arte marcial eficaz. Isso não quer dizer que o Taekwondo Desportivo não seja marcial. O é, haja vista as possibilidades de treinamento de técnicas complexas e contundentes objetivando o nocaute.
Porém, hoje chego a conclusão de que professores e mestres não estão conseguindo mais definir o que querem ou mesmo o que devem ensinar em vista dos anseios dos novos alunos. Em uma aula, dentro de uma academia, os que ensinam se obrigam a repassar a vasta programação inerente ao Taekwondo Marcial. Resultado: não ensinam BEM nem o marcial, nem o desportivo.
O praticante que inicia seu aprendizado por meio das técnicas primárias de son ki sul e bal ki sul é rapidamente envolvido também em um arsenal de técnicas de competições e discursos do que é ponto e do que não é; do chute proibido abaixo da cintura e do soco que obrigatoriamente deve atingir somente o colete do adversário. Esquecido ficou o discurso de que o corpo precisa se constituir em uma arma e, como tal, deve eliminar o adversário com um só golpe. O faixa-branca se vê levado para o lado competitivo sem mesmo ser questionado se é isso que ele quer.
Na verdade, o Taekwondo Marcial, que se ensina hoje, está embalado sistematicamente a compostos desportivos. Por outro lado, o praticante que se queda pelo olimpísmo acaba se obrigando a cumprir as formalidades marciais, objetivando os exames sofríveis de graduação, cuja programação, contraditoriamente, é tão-somente marcial.
Aos que escolheram o taekwondo competitivo como opção, a programação desportiva é tão extensa que acaba se tornando contraproducente aprenderem também o son ki sul, pommsaes, se bons e hambons. A estes, que optaram pela seara desportiva, a mudança de gubs deve ser concedida por meio de metodologia diferenciada. Ele chegaria tão-somente ao 1º Dan, credenciando-se à carreira desportiva competitiva, podendo ser, além disso, mais um braço a alavancar o fomento do Taekwondo Desportivo.
Portanto é chegada a hora, até mesmo pela urgência de se forjar novos talentos, de termos dois tipos de dojans independentes: o marcial e o desportivo.
6 comentários:
Concordo em gênero, número e grau.
Fica minha dúvida, caberia ao mestre responsável pela academia definir dois curriculos distintos? Um curriculo diferenciado para competidores e outro para o Taekwondo Marcial?
O Taekwondo como arte marcial possui grande quantidade de técnicas a serem aprendidas, treinadas e aprmoradas e com a preparação também para competições o tempo se torna escasso para que haja uma evolução satisfatória.
Um curriculo só pra competição (TKD Olímpico) não levará a filosofia e a técnica marcial á extinção? Haja vista que a grande maioria das pessoas que procuram o TKD se identificam mais com a competição do que com as posições enfadonhas do início a prática do TKD.
O que pensam??
Acredito que um não extingue o outro, a maioria esmagadora dos praticantes não visa competição e sim defesa pessoal, lazer, etc.
O problema de graduar rapidamente os competidores também traz problemas, pois em algum momento a carreira acaba e o indivíduo não sabe muita coisa de TKD além de chutar raquete.
Esse "professor" estará no mercado também.
É mais ou menos o que acontece nos EUA com os McDojang's.
Um outro problema em relação aos "exames de faixa sofríveis" é justamente essa questão do $$$ que muitos professores dinheiristas querem formar faixas pretas em 2 anos ( "supletivo de TKD...").
Por que não olharmos o que é feito em outras AM´s. Em algumas a faixa é dada por merecimento.
Isso é uma discussão que infelizmente as federações e a confederação não quer avocar pra si.
O objetivo é outro...
A tese defendida está bastante resumida e realmente causa algumas dúvidas. A idéia básica é a de não modificar o trabalho sistemático que já existe, onde também se aprende técnicas de competições, mas também definir uma outra dinâmica voltada tão-somente para as competições. A filosofia, a disciplina, as etiquetas e reverências permanecem as mesmas. O que se retira são apenas as formas técnicas. Dessa forma, também, nada impede que este praticante, depois, se torne um praticante marcial.
O que não podemos é ficar engessado a um sistema criado meio que a toque de caixa, que acabou não acompanhando em sua plenitude o desenvolvimento desportivo da modalidade.
Acompanhando o raciocínio do Mestre Marcus Rezende, e fazendo uma analogia com a graduação em Educação física, seria como "bacharelado" e "licenciatura", onde um não invalida o outro, mas ambos têm suas prerrogativas e áreas de atuação. Quanto ao fato levantado pelos colegas acima, com relação à falta de idoneidade no que tange ao sistema de exame, temos que partir da premissa que a tese levantada pelo Mestre Marcus se aplicaria e funcionaria em escolas de taekwondo, que fossem revestidas de ética, boa conduta e respeito, pois encontraremos desvios em qualquer área de atuação, em especial no taekwondo, onde diversos são os espisódios de "compra de dans", não cumprimento do prazo estipulado pela Kukkiwon, seja na carência de um dan para o outro, quanto com relação à idade mínima e sem contar com aqueles com faixas pretas repletas de listras, que mal sabem executar um movimento mais complexo, mas com certeza, dominam e muito a "arte" de monopolizar exames de faixa, para se locupletar indevidamente, lançando no mercado inúmeros praticantes com graduações que não correspondem ao repertório técnico-motor... mas isso é uma outra história. No que tange aos praticantes graduados faixas-pretas no "taekwondo desportivo", estariam sim, aptos a ministrar aulas da referida modalidade e poderiam a qualquer momento, aprender a programação marcial, para buscar as graduações subsequentes. E isso tudo, ficaria sob responsabilidade da escola de taekwondo a que ele pertencesse. Momento final desse texto, para render homenagem e orgulho por partilhar da amizade do grande Mestre (na mais pura acepção da palavra), Marcus Rezende, integrante da velha guarda, mas com idéias de vanguarda e antenadas com a evolução do desporto mundial.
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