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sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Lutadores altos formam a nova elite do taekwondo mundial

Marcus Rezende


Tem sido generalizada a opinião de que atualmente o taekwondo competitivo passou a ser um esporte para atletas altos. Entre tantos fatores que também me fazem cada vez mais acreditar nessa tese estão o controle da distância, os movimentos de primeiro tempo com a perna da frente e, obviamente, os resultados das principais competições internacionais dos últimos anos.
Trata-se de um taekwondo desenvolvido em altíssimo nível por atletas que chegam a mais de 1:80 cm de altura e que não ultrapassam os 58 quilos de peso. Tudo adicionado às técnicas de uso dos coletes eletrônicos.
Estes gigantes magrelos facilmente atingem tronco e cabeça de atletas mais baixo, cujos destinos nas competições de alto nível têm sido sucumbirem quase sempre em meio a escoras e a boa manutenção da distância. Porém, isso não significa dizer que eles não possam ser atingidos.
Quem poderia imaginar, por exemplo, na década de 1980, que um peso pesado de boxe com 1,80 de altura fosse se tornar o maior fenômeno de todos os tempos. Estou me referindo a Mike Tyson, que de forma avassaladora, aos 18 anos de idade, passou a derrubar todos os oponentes que se punham à frente dele. Ele pendulava ofensivamente para cima de seus adversários, fugia dos jabs e, a curta distância, despejava em altíssima velocidade golpes que, no mais das vezes, vinha de baixo para cima e atingiam o queixo dos oponentes.
No Taekwondo, no entanto, um atleta baixo, que queira vencer adversários altos e talentosos, vai precisar subverter todo o conceito de treinamento e aprimorar, por exemplo, os giros na intenção de furar os bloqueios defensivos, tais como o da perna erguida à frente, e, dessa forma, tentar atingir o rosto destes varapaus. Isso porque a cada êxito de um chute demolidor, visando o queixo ou a cabeça, se não conquistar o nocaute, no mínimo, compensará o esforço com 4 pontos.
Sendo assim, na programação de treinamento destes atletas mais baixos, seria preciso que atentassem os treinadores e atletas para o quanto perdem de tempo treinando técnicas que não vão conseguir utilizar frente a tais oponentes.
E da forma que estão configuradas as regras, o taekwondo enquanto esporte de alto rendimento continuará a beneficiar os atletas mais altos. Portanto, tal situação pode nos levar a inferir não valer mais a pena (enquanto professor, mestre ou treinador profissional) iludir atletas baixos e dizer a eles que estão em condições de igualdade com os mais altos na busca de títulos mundiais ou olímpicos. A tarefa é muito árdua aos menos dotados de altura. É preciso que se use da honestidade com estes praticantes, para que não se frustrem.
Os treinadores brasileiros, por sua vez, precisam ser mais criteriosos e trabalhar com a realidade atual, para não perderem o próprio tempo e o do praticante.

Portanto, nesta toada, podemos chegar a conclusão de que o taekwondo competitivo está mais excludente do que antes. Ele vem servindo a poucos. Dessa forma, vale mais a pena investir em um trabalho marcial do que competitivo. Aos baixinhos que, mesmo assim, se convencerem de que dá pra insistir no sonho de se tornarem campeões internacionais, seja um demolidor.