Marcus Rezende
Tem sido generalizada a
opinião de que atualmente o taekwondo competitivo passou a ser um
esporte para atletas altos. Entre tantos fatores que também me fazem
cada vez mais acreditar nessa tese estão o controle da distância,
os movimentos de primeiro tempo com a perna da frente e, obviamente,
os resultados das principais competições internacionais dos últimos
anos.
Trata-se de um
taekwondo desenvolvido em altíssimo nível por atletas que chegam a
mais de 1:80 cm de altura e que não ultrapassam os 58 quilos de
peso. Tudo adicionado às técnicas de uso dos coletes eletrônicos.
Estes gigantes
magrelos facilmente atingem tronco e cabeça de atletas mais baixo,
cujos destinos nas competições de alto nível têm sido sucumbirem
quase sempre em meio a escoras e a boa manutenção da distância.
Porém, isso não significa dizer que eles não possam ser atingidos.
Quem poderia imaginar,
por exemplo, na década de 1980, que um peso pesado de boxe com 1,80
de altura fosse se tornar o maior fenômeno de todos os tempos. Estou
me referindo a Mike Tyson, que de forma avassaladora, aos 18 anos de
idade, passou a derrubar todos os oponentes que se punham à frente
dele. Ele pendulava ofensivamente para cima de seus adversários,
fugia dos jabs e, a curta distância, despejava em altíssima
velocidade golpes que, no mais das vezes, vinha de baixo para cima e
atingiam o queixo dos oponentes.
No Taekwondo, no
entanto, um atleta baixo, que queira vencer adversários altos e
talentosos, vai precisar subverter todo o conceito de treinamento e
aprimorar, por exemplo, os giros na intenção de furar os bloqueios
defensivos, tais como o da perna erguida à frente, e, dessa forma,
tentar atingir o rosto destes varapaus. Isso porque a cada êxito de
um chute demolidor, visando o queixo ou a cabeça, se não conquistar
o nocaute, no mínimo, compensará o esforço com 4 pontos.
Sendo assim, na
programação de treinamento destes atletas mais baixos, seria
preciso que atentassem os treinadores e atletas para o quanto
perdem de tempo treinando técnicas que não vão conseguir utilizar
frente a tais oponentes.
E da forma que estão configuradas as regras, o
taekwondo enquanto esporte de alto rendimento continuará a
beneficiar os atletas mais altos. Portanto, tal situação pode nos levar a inferir não valer mais a pena (enquanto professor, mestre
ou treinador profissional) iludir atletas baixos e dizer a eles que estão em
condições de igualdade com os mais altos na busca de títulos
mundiais ou olímpicos. A tarefa é muito árdua aos menos dotados
de altura. É preciso que se use da honestidade com estes praticantes, para que
não se frustrem.
Os treinadores
brasileiros, por sua vez, precisam ser mais criteriosos e trabalhar
com a realidade atual, para não perderem o próprio tempo e o do
praticante.
Portanto, nesta
toada, podemos chegar a conclusão de que o taekwondo competitivo
está mais excludente do que antes. Ele vem servindo a poucos. Dessa
forma, vale mais a pena investir em um trabalho marcial do que
competitivo. Aos baixinhos que, mesmo assim, se convencerem de que dá
pra insistir no sonho de se tornarem campeões internacionais, seja
um demolidor.