Marcus Rezende
Não há como se pensar
no desenvolvimento do esporte amador brasileiro sem que o sistema
político desportivo passe por transformações significativas, como,
por exemplo, uma profunda modificação no modo de se eleger o
presidente de uma Confederação, para cujo êxito eleitoral atualmente basta
a maioria simples dos votos de 27 presidentes de federações
estaduais. Isto não é democrático e justo. O sistema brasileiro
eletivo gera, na verdade, uma continuidade do subdesenvolvimento do
desporto brasileiro, pois não é difícil entender que presidentes
nacionais (dentro deste sistema) de tudo farão para se manter no
poder, acabando por trabalhar (grosso modo) tão somente em prol dos
interesses dos que possuem os votos.
Para o início de
uma transformação, a legislação desportiva precisa mudar este
ponto e inserir no sistema eletivo nacional as associações e
clubes, para que um gestor nacional não se sinta tão pressionado
por tão poucos eleitores. Podemos pegar como exemplo o que ocorre no
taekwondo brasileiro. Alguns presidentes estaduais recebem cargos remunerados
pagos por verba pública. Há imoralidade maior? Não seria isso entendido como uma compra subliminar de voto?
Não fosse desse jeito, o
presidente poderia trabalhar realmente em prol de uma coletividade
esportiva.
Este é o primeiro
passo, na minha opinião, e primordial, à medida que o presidente
nacional, trabalhando na direção dos clubes e associações estaria
trabalhando, na verdade, com muita proximidade de treinadores,
praticantes e atletas.
Dessa forma, poderia
entender melhor as dificuldades por que passam os verdadeiros donos
do espetáculo esportivo e trabalhar com mais acuidade em prol de
projetos de fomento, de capacitação e empreendedorismo.
Assim, as ideias e
ações voltadas para o desenvolvimento do esporte fluiriam. Estas
entidades se fortaleceriam e poderiam crescer, pois saberiam da
parcela de poder no cenário nacional. Os dirigentes de associações
se sentiriam valorizados e com isso buscariam desenvolver as suas
entidades.
Os recursos públicos
e privados poderiam, em parte, migrar para estas células. O que
vemos hoje são os recursos serem despejados exclusivamente nas
confederações. E estas entidades, no mais das vezes, não sabem
fazer uso adequado das verbas públicas. Consequentemente, por conta
da falta de zelo e responsabilidade, acabam deixando de cair nas
graças das empresas privadas.
Imagine tais
receitas jorrando de forma descentralizada e fomentando o esporte em
todos os cantos do país? À medida que associações fossem
surgindo, automaticamente as entidades de administração regionais e
nacional se tornariam mais democráticas e, aí, candidatos mais
competentes surgiriam como opção para um colégio eleitoral mais amplo.